segunda-feira, 4 de abril de 2011

O nosso desígnio cultural

Uma sociedade pode levar uma eternidade a existir num estado bucólico, pachorrento e sem objectivo nenhum para a sua existência, para além da própria dolência em que vive. É de alguma forma, o estado de espírito da Madeira e da sua política cultural nos últimos 500 anos. Sempre remetida pelo poder político para um patamar inferior do desenvolvimento sócio-económico do arquipélago, a cultura -enquanto meio superior de performance intelectual- foi apenas evoluindo num exercício ginástico acrobático pelas práticas ad hoc de uns quantos seres extraordinários, que por teimosia insana pretendiam ir um pouco mais além do que a simples sobrevivência instada no habitual consumo de oxigénio pelo cérebro. Pessoas como Luiz Peter Clode, António Aragão, Manuel Luiz Vieira ou Reis Gomes, entre outros visionários, tiveram a arte de Hamelin para puxar terceiros para a sua causa e revolucionaram muitas das práticas artísticas e culturais da Madeira.

E o Estado ? Marginalizando uns e abraçando outros, conforme lhe interessava, no entanto nunca se preocupou em criar condições estruturais para que as práticas culturais da Madeira pudessem ser uma força motriz e universal do nosso desenvolvimento, pudessem contribuir para uma identidade própria e pudessem descobrir um objectivo superior além da labuta diária do pão e saúde. Ainda hoje nos falta um desígnio comum, acima das guerrilhas intrínsecas de uma sociedade pequena como a nossa, e que só uma cultura arrojada e aberta poderá suprir. Esse é o grande desafio que nos falta ultrapassar, após termos ganho a luta contra as adversidades geográficas. Um primeiro passo seria pensar um projecto de desenvolvimento cultural regional para os próximos 10 anos, colocando como ponto de partida uma questão muito simples: o que é que queremos ser e onde queremos estar culturalmente em 2020 ? Cada um que faça o seu exercício e aposto que ficará surpreendido com as suas próprias respostas.

Fevereiro 2011, JMM

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