quarta-feira, 12 de junho de 2013

Como o desemprego pode ajudar o turismo da Madeira

Não tenho dúvidas que o combate ao desemprego é o nosso equivalente à tarefa de Hércules para os próximos anos, exigindo novas políticas e metodologias inovadoras para que toda uma força de trabalho qualificada seja reintroduzida na economia produtiva e seja uma combustão positiva na sociedade.
Na Madeira, é fundamental olhar para a radiografia do nosso desemprego e mesclando os vários indicadores é possível termos iniciativas válidas e inspiradoras que reduzam o desemprego. Dou exemplo abaixo de uma delas que há algum tempo deveria ter sido iniciada.
A Madeira tem neste momento mais de 7.000 desempregados com instrução de nível secundário ou superior, dos quais mais de 2.000 são jovens até aos 25 anos. Como os seus congéneres empregados, a larga maioria destes jovens desempregados utiliza o seu tempo livre na Internet, surfando as redes sociais, vendo vídeos no YouTube ou em foruns de mensagens gratuitas, numa constante actividade comunicacional com um potencial fantástico para ser maximizada em iniciativas profissionais. Pensem na energia eólica: é como se estivéssemos num campo aberto em que o vento é intenso e poderoso, faltando-nos apenas a fórmula para captar a sua energia de forma positiva e utilizá-la para fins mais socialmente lucrativos.
Do outro lado do pote temos um sector do Turismo que vem definhando na Madeira há vários anos. Falta de políticas sustentadas, inércia e saturação de quem pensa a promoção e ainda problemas estruturantes ao nível da oferta fazem com que a actividade turística (a única que ainda tem um futuro não totalmente dependente da troika e do PAEF) esteja em decadência e, tal como o desemprego, necessite urgentemente de medidas inovadoras e inspiradoras que levem à mudança de paradigma.
No sector, há um nicho de mercado que vem se tornando cada vez mais crítico para todos os agentes e que as políticas de promoção turística da Madeira vêm neglicenciando de forma absurda. A promoção e comunicação online do destino Madeira. O marketing online tem vantagens incríveis ao nível dos custos, da mensurabilidade, da rapidez, da flexibilidade, da partilha e da direcionalidade da mensagem que não são alcançáveis por qualquer outra estratégia de comunicação. Ao contrário do que as pessoas pensam, o marketing online é brutalmente eficaz quando combina tecnologia (softwares de CRM, reporting, networking, etc, etc...) com a paixão das pessoas que trabalham esses mesmos suportes. Ora, não há mais paixão como aquela que os madeirenses sentem pela sua terra.
Então porque não combinar o vento intenso de comunicação que resulta destes 2.000 jovens desempregados que surfam pela Net com uma estratégia global e estrutural de promoção turística da Madeira na Web ? Não de uma forma atabalhoada e errática, mas preparada através de formação profissional específica (6 a 8 meses de formação especializada) e orientada para o mercado, para os vários activos que a Madeira possui, trabalhando os nichos de mercado muito cirúrgicos (eventos, actividades, identidade cultural, etc) ao lado de uma promoção que incida sobre a mensagem genérica da Madeira, fazendo follow up da mesma.
Os resultados expectáveis são enormes: se cada um destes jovens gerar 2 novas reservas turísticas por mês durante 1 ano de experiência, após o período de formação, estamos a falar de 48.000 novos turistas anuais, com uma estimativa de receitas brutas na ordem dos 60 a 70 milhões de euros (gasto médio pelo pacote da viagem) ou de 19 milhões de euros em gastos médios locais. Não tenho dúvidas que estes números podem ser ainda mais elevados, tendo a posteriori um efeito fantástico na competividade do turismo madeirense e na revitalização da sua economia, gerando alavancas positivas para todos os outros nichos de emprego, directa ou indirectamente relacionados com o turismo.
O Estado deverá ser o motor de arranque de uma iniciativa como esta, deixando após os primeiros 12 meses que o sector privado absorva esta massa comunicacional, através de um pacote de incentivos à contratação (alguns deles amplificando os actualmente existentes no Instituto Regional de Emprego) e à criação do auto-emprego.
E como financiar isto tudo ? Um programa ambicioso como este terá um custo expectável na ordem dos 30 milhões de euros, se juntarmos 8 meses de formação a 1 ano de actividade específica desta massa de jovens. O financiamento de um projecto como este deverá ser uma das linhas principais do novo Quadro Comunitário de Emprego e apresentado à União Europeia como uma linha da frente do combate ao desemprego jovem. A UE reserva para o período 2014-2020 mais de 15 mil milhões de euros para a formação e combate ao desemprego jovem. A Madeira com uma iniciativa destas pode estar na pole position desta estratégia.