segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Síndroma HA


Corre o ano de 2014. No meio da crise, a Madeira luta pela afetação de fundos comunitários no programa Europa 2020. Combates fratricidas opõem os que defendem uma estratégia baseada em fatores de desenvolvimento económico ligados à inovação e às indústrias criativas enquanto os velhos do regime ainda se espaventam com as infraestruturas e as piscinas e os teleféricos sociais, enfim, o betão como Deus. Enquanto a armada do betão apresenta uma união de esforços notável no seu sentido corporativo, os seus antagonistas são guerrilheiros isolados, sem estratégias conjuntas e estruturantes. A culpa é de um velho vírus, mais poderoso que qualquer aedes aegipty e que assentou arraiais nas gentes do intangível da Madeira. É o perverso e letal Síndroma HA. Apesar de identificado há décadas, de conhecidos os seus malefícios, ele continua à solta, minando todas as iniciativas de libertação. É o bicho que se aloja nas cabeças dos gestores culturais e que os faz pensar que as suas capelas são únicas no Mundo e mais importantes do que todas as outras, é a bactéria que afeta os egos dos artistas e que os incham como peixes-porco fora de água e é o bacilo que põe uma pala nos olhos dos políticos deixando-os com uma visão periférica que não ultrapassa a esquina mais próxima. Mas o efeito mais perverso deste Síndroma HA é que toda a gente tem consciência dele e da sua maldade, mas por qualquer razão que o coração desconhece, ninguém se atreve a combatê-lo. E assim, enquanto não nos livrarmos deste estúpido vírus, continuaremos alegres a maldizer os milhões do orçamento que vão para todos os outros e incapazes de provocar a verdadeira mudança que se impõe nesta ilha à deriva no meio do Atlântico.