segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Síndroma HA


Corre o ano de 2014. No meio da crise, a Madeira luta pela afetação de fundos comunitários no programa Europa 2020. Combates fratricidas opõem os que defendem uma estratégia baseada em fatores de desenvolvimento económico ligados à inovação e às indústrias criativas enquanto os velhos do regime ainda se espaventam com as infraestruturas e as piscinas e os teleféricos sociais, enfim, o betão como Deus. Enquanto a armada do betão apresenta uma união de esforços notável no seu sentido corporativo, os seus antagonistas são guerrilheiros isolados, sem estratégias conjuntas e estruturantes. A culpa é de um velho vírus, mais poderoso que qualquer aedes aegipty e que assentou arraiais nas gentes do intangível da Madeira. É o perverso e letal Síndroma HA. Apesar de identificado há décadas, de conhecidos os seus malefícios, ele continua à solta, minando todas as iniciativas de libertação. É o bicho que se aloja nas cabeças dos gestores culturais e que os faz pensar que as suas capelas são únicas no Mundo e mais importantes do que todas as outras, é a bactéria que afeta os egos dos artistas e que os incham como peixes-porco fora de água e é o bacilo que põe uma pala nos olhos dos políticos deixando-os com uma visão periférica que não ultrapassa a esquina mais próxima. Mas o efeito mais perverso deste Síndroma HA é que toda a gente tem consciência dele e da sua maldade, mas por qualquer razão que o coração desconhece, ninguém se atreve a combatê-lo. E assim, enquanto não nos livrarmos deste estúpido vírus, continuaremos alegres a maldizer os milhões do orçamento que vão para todos os outros e incapazes de provocar a verdadeira mudança que se impõe nesta ilha à deriva no meio do Atlântico.

sábado, 17 de novembro de 2012

O audiovisual mexe na Madeira

O ano de 2012 ameaça ser muito interessante para o lançamento de novos projectos na área do audiovisual na Madeira. Não só foi criada recentemente a Associação do Filme, Televisão e Multimedia da Madeira (do qual sou um dos sócios-fundadores, juntamente com o Rafael Santos e Henrique Teixeira), mas também foram criadas 3 novas produtoras que querem fazer coisas inovadoras e pujantes.

A Terminal 7, a Wamãe e a Urbanistas Digitais, respectivamente fundadas por Rui Rodrigues, Filipe Ferraz e Nuno Serrão estão já a produzir várias obras audiovisuais originais, cada uma com o estilo muito pessoal dos seus fundadores.

Um dos projectos em curso reside na produção de 4 curtas metragens de ficção com produção executiva da Die4Films e em co-produção com as 3 produtoras atrás referidas mais a Caravana Filmes de Bernardo Nascimento. Estas 4 curtas serão estreadas no âmbito do projecto Centro das Artes Global no primeiro semestre de 2013.

Quanto à AFTM, a sua fundação pretende finalmente mexer com a Madeira Film Commission e tornar a Madeira um destino atractivo para produções internacionais no sector audiovisual. Como ? A isso será dedicado um futuro artigo neste blogue.

Outro projecto que promete para 2013: o renascimento do Cinemax. A ver vamos!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mudar de vida, mas não contrafeito


Enquanto nos debatemos no fundo deste poço em que nos deixaram, será fundamental começarmos a pensar em mudar de vida. Em criar novas ideias que nos façam sair da letargia que perpassa por toda a sociedade madeirense. Eis a minha contribuição: tornar a Madeira um destino preferencial para as produções audiovisuais internacionais, quer no campo do cinema, quer na TV.
Para que isto possa acontecer, são necessários três requesitos cruciais: que um território possua boas condições ligadas ao clima, luz solar e paisagens variadas; que esse território tenha uma logística competitiva ao nível de recursos humanos, equipamentos, hotelaria e transportes e finalmente, que essa região ofereça incentivos financeiros, fiscais ou económicos para que seja atractiva para os produtores audiovisuais, face a outros territórios concorrentes que oferecem já bons pacotes de incentivos.
Neste momento, a Madeira possui tudo isso, mas de forma desestruturada e descompensada. Temos dezenas de técnicos, artistas e recursos humanos formados em escolas profissionais e universidades ligadas às indústrias criativas que trabalham como caixas de supermercados para sobreviver, uma Zona Franca com uma gestão caduca que só pensa no trading especulativo como única forma de arrecadar receita e um excelente sistema de incentivos ao investimento, mas que aponta para a economia do século passado, aquela que nos mandou para o pântano onde nos encontramos. 
Temos igualmente paisagens extraordinárias de montanha, mar, espaços rurais e urbanos, clássicos e contemporâneos, deserto e floresta. Tudo acessível de forma rápida e segura. Temos uma das melhores exposições solares da Europa durante todo o ano e uma hotelaria excelente. Temos ainda um aeroporto internacional, com mais de 20 ligações internacionais diferentes, e a maior parte delas dos principais paises europeus de produção audiovisual. 
Só não temos um Governo que perceba o pote magnífico que tudo isto pode dar, bastando para isso algum rasgo de visão que se consubstancie numa política diferente de apoio à inovação e ao desenvolvimento económico.
Há 5 anos atrás, Malta não tinha metade do que nós temos. Hoje tem uma indústria do audiovisual que movimenta mais de 100 milhões de euros atraindo produções de todo o Mundo. Bastou para isso ter um Governo atento.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Onde está o dinheiro ?


O problema do financiamento da cultura na Madeira parece ser um bicho de sete cabeças, mas se formos inovadores e havendo interesse político em fazer algo de realmente diferente, pode mudar-se o tal paradigma que esta geração de políticos tanto apregoa, mas que não tem vontade para fazer.
Exceptuando os fundos comunitários (Intervir +, Proderam e os restantes para as empresas), existem iniciativas que a tutela da cultura deveria efectuar para aumentar o seu orçamento e deixar tanto de depender das vontades políticas que olham para a cultura com um desdém de quem se acha "dono do dinheiro" e para quem, a Cultura, não passa de um desperdício.
Em primeiro lugar, é fundamental uma completa requalificação da gestão das receitas públicas referentes à visitação do património. É fundamental alterar toda a política de preços dos equipamentos públicos (museus, igrejas e demais equipamentos públicos) e lançar um projecto de marketing para viabilizar uma estratégia de turismo cultural.
O pricing praticado na Madeira para a visita aos museus públicos é absurdamente baixo e se o mesmo fosse colocado ao nível médio europeu, as receitas deste sector cresceriam cerca de 1 milhão de euros anualmente (basta dizer que é quase metade de todo o orçamento da DRAC).
Em segundo lugar, requalificar a percentagem das receitas do Casino da Madeira, que deveriam ser injectadas globalmente e não apenas na animação do Grupo Pestana. 
E não se trata aqui de qualquer complexo contra o Grupo Pestana. A ideia seria mesmo estabelecer uma parceria público-privada entre este grupo empresarial e a DRAC para que parte das verbas do jogo fossem investidas, por exemplo num prémio anual de Indústrias Criativas na Madeira que pudessem lançar novos valores que até poderiam ser rentabilizados pela componente privada, aumentando o seu valor.
Em terceiro, estabelecer uma percentagem das receitas das empresas de transportes de turismo que deveriam ser investidos no sector cultural. Em compensação, seriam dadas a essas companhias e aos seus clientes acessos privilegiados a iniciativas culturais.
Defendo desde há muito que a tutela deveria negociar com a TAP e/ou outras companhias áereas e estabelecer tarifas preferenciais para a cultura da Madeira, oferecendo em contrapartida espaços publicitários para estas em todos os eventos abrangidos. Não seria interessante para uma companhia como a TAP ficar com toda a ponte aérea de artistas para e da Madeira (são quase 3.000 lugares por ano) surgindo como "Sponsor oficial" em todos os grandes eventos regionais ?
Quarto, mexer nas receitas fiscais do tabaco, onde uma percentagem seria alocada à Cultura da Madeira. As tabaqueiras não podem fazer publicidade directa, mas podem ter pontos de venda de tabaco nos eventos culturais, sendo esse um dos seus mercados naturais. Em vez de estarmos a tentar esconder o sol com uma peneira, não será melhor taxarmos o sol das tabaqueiras?
Quinto, criar um mecanismo de compensação das obras públicas.  Por cada cêntimo de euro ganho em concurso público pelas construtoras na Madeira, uma percentagem seria investida por estas em recuperação de património, através da prestação de serviços e não de transferência de verbas. 
Não, não é assim tão díficil. Façamos umas contas: o PIDDAR previsto até 2015 tem quase 450 milhões de euros de obras públicas. Com um mecanismo destes que prevesse 0,5% de reinvestimento das construtoras em serviços na recuperação do património, a Madeira poderia ter 2,25 milhões de euros para recuperação de património, começando por Santa Clara que é a nossa pérola mais cintilante e aquela que necessita urgentemente de obras. Com Santa Clara recuperada, poderíamos criar aqui um roteiro cultural turístico que anualmente teria receitas na ordem dos 800.000 euros, entre visitação, merchandise e mecenato.
Sexto, criar um mecanismo de compensação de consumo de conteúdos multimédia. A Madeira consome muito mais conteúdos multimédia do que produz. As empresas de telecomunicações teriam que investir parte das suas receitas no sector criativo da Madeira, apoiando a produção de conteúdos regionais e tendo preferência na sua comercialização.
Para uma Zon ou uma Meo, quanto mais conteúdos forem distribuídos na sua rede interna, melhor, porque significa menos largura de banda para importar dados. Não tenho a mínima dúvida que um projecto bem apresentado pela tutela a estas duas empresas seria bem visto como uma forma de estimular a produção multimedia regional e quem sabe fazer desabrochar de vez toda a torrente criativa que vamos vendo indoor em manifestações amadoras, imberbes e espontâneas de toda uma nova geração de criativos madeirenses que se apresta para conquistar o Mundo.