Há alguns anos apareceu uma revista em
Portugal cujo lema promocional era “Despeça-se já!”. Dedicada
ao empreendorismo, esta publicação fazia a apologia do auto-emprego
e prometia a todos os empreendedores um futuro risonho se
abandonassem os seus empregos e se dedicassem à sua utopia, fosse
ela uma ideia própria ou apenas um copy-paste de outrem.
Aliando a isto uma outra jura de financiamento fácil e mercado
inesgotável, muitos foram os que arriscaram e, na verdade, Portugal
viveu uns quantos anos de reboliço efervescente, onde professores
abandonavam as aulas e exploravam franchisings de cosmética,
enfermeiros lançavam-se em projectos de animação turística e
quadros bancários criavam a rodos negócios Web que vendiam tudo e
mais alguma coisa (inclusive um amigo meu fundou em Lisboa uma
agência especializada apenas em festas de divórcio!!!).
Dez ou quinze anos após tudo isto, que
balanço se pode fazer desta geração de empreendedores pioneiros ?
Numa recente conferência, muitos deles expuseram as suas
experiências e apesar de mais de 90% não ter conseguido consolidar
com sucesso os seus primeiros negócios, poucos foram os que se
arrependeram de ter dado este salto no desconhecido. Mais: a larga
maioria reconhece que os falhanços iniciais foram fundamentais para
uma segunda vaga de iniciativas mais consistentes, que, surpresa das
surpresas, não se basearam tanto no egocentrismo empreendedor, mas
sim na procura de parcerias e redes de cooperação com outros iguais
ou complementares.
Tudo isto para chegarmos ao Funchal e
às colmeias criativas que vão pululando por aí. Grupos de artistas
plásticos com galerias rolantes, bandas de rock em concertos de
autocarro, pequenos projectos de teatro alternativo em espaços
degradados e outras iniciativas mais ou menos independentes que
surgem sem apoios públicos, mas também sem consistência
estratégica para a cidade. São micro-explosões de criatividade,
úteis para o bem estar mental dos artistas, mas que necessitam de
ser enquadradas por uma política cultural urbana que as potencie e
as complemente com uma nova forma de fazer cultura no Funchal. Quem
conseguir criar este clima de cooperação e parceria estará de
certeza daqui a 10 ou 15 anos numa conferência a explicar porque é
que o Funchal se tornou uma verdadeira capital criativa do Atlântico.
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