sexta-feira, 12 de julho de 2013

Vamos fazer uma festa de divórcio ?

Há alguns anos apareceu uma revista em Portugal cujo lema promocional era “Despeça-se já!”. Dedicada ao empreendorismo, esta publicação fazia a apologia do auto-emprego e prometia a todos os empreendedores um futuro risonho se abandonassem os seus empregos e se dedicassem à sua utopia, fosse ela uma ideia própria ou apenas um copy-paste de outrem. Aliando a isto uma outra jura de financiamento fácil e mercado inesgotável, muitos foram os que arriscaram e, na verdade, Portugal viveu uns quantos anos de reboliço efervescente, onde professores abandonavam as aulas e exploravam franchisings de cosmética, enfermeiros lançavam-se em projectos de animação turística e quadros bancários criavam a rodos negócios Web que vendiam tudo e mais alguma coisa (inclusive um amigo meu fundou em Lisboa uma agência especializada apenas em festas de divórcio!!!).
Dez ou quinze anos após tudo isto, que balanço se pode fazer desta geração de empreendedores pioneiros ? Numa recente conferência, muitos deles expuseram as suas experiências e apesar de mais de 90% não ter conseguido consolidar com sucesso os seus primeiros negócios, poucos foram os que se arrependeram de ter dado este salto no desconhecido. Mais: a larga maioria reconhece que os falhanços iniciais foram fundamentais para uma segunda vaga de iniciativas mais consistentes, que, surpresa das surpresas, não se basearam tanto no egocentrismo empreendedor, mas sim na procura de parcerias e redes de cooperação com outros iguais ou complementares.

Tudo isto para chegarmos ao Funchal e às colmeias criativas que vão pululando por aí. Grupos de artistas plásticos com galerias rolantes, bandas de rock em concertos de autocarro, pequenos projectos de teatro alternativo em espaços degradados e outras iniciativas mais ou menos independentes que surgem sem apoios públicos, mas também sem consistência estratégica para a cidade. São micro-explosões de criatividade, úteis para o bem estar mental dos artistas, mas que necessitam de ser enquadradas por uma política cultural urbana que as potencie e as complemente com uma nova forma de fazer cultura no Funchal. Quem conseguir criar este clima de cooperação e parceria estará de certeza daqui a 10 ou 15 anos numa conferência a explicar porque é que o Funchal se tornou uma verdadeira capital criativa do Atlântico.

Sem comentários:

Enviar um comentário