Uma das principais tarefas da gestão pública da cultura na
Madeira nos próximos anos é responder à pergunta acima. Seja ela uma política
de direita, alicerçada quase sempre na proteção do património e na glorificação
dos grandes eventos, ou de esquerda, apoiada na acérrima defesa dos artistas e da
vanguarda, será crucial definir qual a direção dos parcos dinheiros públicos
que nos serão “oferecidos”, bem como qual a estratégia a apresentar à UE para o
quadro comunitário 2014-2019, provavelmente a única grande fonte de
investimento que teremos para potenciar.
Confesso que me preocupa o aparente vazio de propostas
estratégicas para estes anos mais próximos, uma vez que todo o discurso
mediático se encontra tomado pela crise e pela troika, não parecendo haver espaço para um debate que reúna artistas, gestores culturais, decisores públicos, empresários, académicos e que acerte um desígnio comum. No entanto, não se pode
trocar este futuro pela pressão da discussão do presente. Se o fizermos,
estaremos a hipotecar uma vez mais uma nova hipótese de desenvolvimento que
terá de ser feita com base em pressupostos muito diferentes daqueles que nos
governaram até agora.
O tempo não será de grandes festivais fora de escala, mas
também não será de apoios exacerbados à vanguarda artística sem público. O
património não poderá ser apenas protegido para continuar mumificado, mas sim
vivenciado diariamente e se possível rentabilizado dessa forma. Os artistas não
podem continuar a partir do pressuposto que o Estado é o garante final da sua praxis, mas apenas um motor de arranque.
As parcerias serão simplesmente obrigatórias e o conceito de rede é crítico. Será fundamental ter ideias que potenciem a investigação e desenvolvimento para a criação de produtos culturais inovadores, que respeitem não só a nossa herança tradicional, mas que nos abram ao Mundo da tecnologia e dos novos suportes culturais.
Mas a grande estratégia, quanto a mim, deverá estar num
apoio concreto à produção cultural e criativa na Madeira e não à importação indiferenciada
do exterior. E não estou a falar de nenhuma política xenófoba, uma vez que
neste campo uma das iniciativas importantes será a atração de artistas
internacionais para se radicarem na Madeira e aqui trabalharem.
A Madeira deverá assumir-se como um excelente espaço de criação cultural. E aqui, não tenham dúvidas, nós podemos ser dos melhores locais do Mundo para isso. Basta misturar na dose certa a nossa oferta natural e conhecida de todos com uma política de gestão cultural que considere este sector como um activo, que gera emprego, receita fiscal e promoção e não como uma despesa que tem de estar inscrita no orçamento porque é de bom tom.
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