Corre o ano de 2014. No meio da crise,
a Madeira luta pela afetação de fundos comunitários no programa
Europa 2020. Combates fratricidas opõem os que defendem uma
estratégia baseada em fatores de desenvolvimento económico ligados
à inovação e às indústrias criativas enquanto os velhos do
regime ainda se espaventam com as infraestruturas e as piscinas e os
teleféricos sociais, enfim, o betão como Deus. Enquanto a armada do
betão apresenta uma união de esforços notável no seu sentido
corporativo, os seus antagonistas são guerrilheiros isolados, sem
estratégias conjuntas e estruturantes. A culpa é de um velho vírus,
mais poderoso que qualquer aedes aegipty e que assentou arraiais nas
gentes do intangível da Madeira. É o perverso e letal Síndroma HA.
Apesar de identificado há décadas, de conhecidos os seus
malefícios, ele continua à solta, minando todas as iniciativas de
libertação. É o bicho que se aloja nas cabeças dos gestores
culturais e que os faz pensar que as suas capelas são únicas no
Mundo e mais importantes do que todas as outras, é a bactéria que
afeta os egos dos artistas e que os incham como peixes-porco fora de
água e é o bacilo que põe uma pala nos olhos dos políticos
deixando-os com uma visão periférica que não ultrapassa a esquina
mais próxima. Mas o efeito mais perverso deste Síndroma HA é que
toda a gente tem consciência dele e da sua maldade, mas por qualquer
razão que o coração desconhece, ninguém se atreve a combatê-lo.
E assim, enquanto não nos livrarmos deste estúpido vírus,
continuaremos alegres a maldizer os milhões do orçamento que vão
para todos os outros e incapazes de provocar a verdadeira mudança
que se impõe nesta ilha à deriva no meio do Atlântico.